Crítica: A Coroa decepciona com críticas sociais rasas


A autora Kiera Cass publicou A Coroa em 2015, que é o último livro da saga A Herdeira. A coletânea é uma continuação da saga A Seleção. Vinte anos após América e Maxon se apaixonarem, a filha deles, Eadlyn, precisa passar por sua própria seleção -  a contragosto. A jovem mimada jamais esperaria encontrar um companheiro entre os 35 pretendentes do concurso, muito menos se apaixonar de verdade por um deles. Mas às vezes nossos sentimentos brincam conosco e agora a princesa precisa fazer uma escolha importante e muito mais difícil do que esperava. 

Com o pensamento de que uma mulher não deveria ser impedida de ascender ao trono apenas por ser mulher, America e Maxon faziam questão de que Eadlyn participasse do concurso. Esse aspecto foi, provavelmente, uma tentativa da autora de se demonstrar feminista e progressista, porém, esbarra na ideia machista de que uma mulher precisaria obrigatoriamente ter um marido para governar - algo que foi questionado no segundo filme de O Diário da Princesa, por exemplo, que é mais antigo do que os livros de Kiera Cass.

Dona de um comportamento rebelde e mimado, Eadlyn é bem diferente de seus pais e não cativa o leitor de imediato. Um dos motivos de sua resistência ao concurso é que ela sequer queria governar: em vez disso, preferia manter sua vida mansa de princesa, regada a festas e diversão. Sua personalidade constantemente a colocava em atrito com Josie e Kile, filhos de Marlee e Carter. 

Durante o concurso, os candidatos dão um verdadeiro choque de realidade em Eadlyn, fazendo com que ela abra os olhos em relação à vida de quem não tem acesso aos luxos do palácio. Com isso, ela passa a questionar seu comportamento e sua forma de ver a vida, forçando-se a evoluir como pessoa.

Em A Coroa, temos o desfecho dessa história, que revela com qual dos 35 candidatos Eadlyn resolveu se casar no final. Comparando com a saga A Seleção, os livros A Herdeira e A Coroa possuem um desenvolvimento muito fraco.

Na primeira saga vimos os ataques dos rebeldes, a questão das castas e uma monarquia absolutista com caractetísticas de uma ditadura. Ou seja, diversos aspectos que levavam à reflexões sobre desigualdade social e governos autoritários que ignoram as necessidades de seu povo. Além disso, temos a história de uma jovem com personalidade forte que aceita participar da Seleção não para se casar com um príncipe, mas para ajudar sua família a se livrar da situação de miséria em que vive.

Na continuação, todas essas questões ficam em segundo plano enquanto a narrativa centraliza quase que totalmente nos dilemas românticos da protagonista. Ainda há um quê de crítica social através de Eadlyn, que vivia em uma bolha que foi furada assim que teve contato com a realidade dos candidatos. Porém, faltou profundidade ao abordar essa temática.

Mesmo assim, algumas cenas ainda mantém a forma realista como a família real é retratada na obra. Como por exemplo, os conselheiros da princesa que queriam declarar guerra a um país, colocando em risco a população e a economia, além das pessoas que se aproximam apenas com o intuito de aplicar um golpe.

A decisão tomada pela princesa no final do livro pode decepcionar um pouco alguns fãs, porém, está longe de ser o maior defeito do enredo. Na verdade, finais inesperados que fogem do clichê previsível são uma boa qualidade.

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