Crítica: Os Treze Porquês promove empatia e combate ao suicídio

O escritor Jay Ascher publicou Os Treze Porquês em 2016, inspirado em um caso ocorrido na escola em que ele estudava em sua juventude. Em 2017, a história foi adaptada para uma série original da Netflix, criada por Brian Yorkey, com produção de Selena Gomez. O intuito, assim como no livro, era conscientizar os espectadores sobre a importância de dar apoio e não ignorar os pedidos de socorro de um potencial suicida. 

No livro, assim como na série, Clay Jensen recebe uma caixa de sapatos que continha sete fitas cassete dentro, sem informar o remetente. Ao escutá-las, ele descobre que elas foram enviadas por Hannah Baker, a garota que havia cometido suicídio e por quem Clay era apaixonado. Nos áudios, a adolescente revela quais foram os 13 motivos que culminaram em seu suicídio.

Há uma importante diferença na forma como o suicídio é retratado no livro e na série - que foi duramentee criticada por possuir uma cena em que Hannah se matava de forma violenta. De acordo com especialistas em saúde mental, as imagens podem representar um manual de instruções para pessoas que desejam cometer suicídio. Além disso, a polêmica levantou um debate sobre a necessidade de se haver avisos de gatilho em produções que retratam temas sensíveis como dependência química, suicídio, violência de gênero e outros. Devido ao pedido de diversos especialistas médicos, a cena em que Hannah cometia suicídio foi deletada posteriormente. 

Por esse mesmo motivo, não revelarei aqui a forma como a personagem cometeu suicídio no livro ou na série - deixarei essa responsabilidade nas mãos do autor. Livros como esse são essenciais para levantar debates sobre a importância de se preservar a saúde mental. Através da publicação, o autor pretendia incentivar que as pessoas entendessem de uma vez por todas que, quem demonstra ter intenção de se matar não está "de frescura" ou "de mi-mi-mi". É importantíssimo nos mantermos atentos às pessoas ao nosso redor para identificarmos os sinais e ajudarmos enquanto ainda houver tempo. Não podemos jamais negligenciar ou menosprezar quem está gritando por ajuda diante de nossos olhos. 

O final do livro contém uma entrevista feita com o autor. Na conversa, ele revela como foi o caso da adolescente que cometeu suicídio na escola em que ele estudava.
"(...) Teve uma lembrança séria que entrou no livro. No colégio, quando eu estava na aula de comunicação entre jovens, apareceu um bilhete suicida quase idêntico ao de Hannah, deixado no saquinho de papel  do nosso professor. Também era anônimo e a classe reagiu como está descrito no livro. E nunca descobrimos quem o escreveu"

No livro, a turma de Hannah também tinha um espaço para que os alunos escrevessem bilhetes anônimos. Aproveitando a oportunidade de desabafar sem se expor, a menina escreveu sobre a ideação suicida que estava sofrendo. O bilhete gerou um debate na turma, que começou a debater sobre como poderia ajudar o autor do pedido de socorro caso soubessem quem é. 
"Uma pessoa falou que seria difícil ajudar o fulano sem saber por que ele queria se matar.

E eu me segurei para não dizer: 'Ou ela. Pode ser uma garota.'

Aí, os outros começaram a dar suas opiniões:

'Se essa pessoa se sente sozinha, ela pode almoçar com a gente.' 'Se tiver notas baixas, podemos ajudá-la a estudar.'

'Se tiver problemas em casa, talvez pudéssemos... sei lá... incentivá-la a procurar um psicólogo ou algo assim'.

Mas tudo o que eles disseram - tudo! - veio com certo tom de irritação.

Até que uma das garotas, cujo nome não me interessa, disse tudo o que todo mundo tava pensando.

'Parece que essa pessoa que escreveu esse bilhete só quer atenção. Se fosse sério ela teria dito quem é'.

Eu não consegui acreditar.

A forma como essa parte é descrita é perfeita para gerar empatia no leitor, que se revolta ao se deparar com a forma como os problemas da protagonista são negligenciados e menosprezados. Como o bilhete poderia ter sido escrito apenas para chamar atenção se era anônimo? Como as pessoas poderiam saber quem queria ser presenteado com 15 minutos de fama?

Por fim, se a série tivesse sido produzida com o mesmo cuidado que o autor teve ao escrever o livro, teria tido sucesso em seu objetivo de gerar debates produtivos sobre saúde mental e combate ao suicídio. 

Está precisando de ajuda?

Se assim como Hannah Baker você se sente sem saída e está cogitando pôr um fim em sua vida, peça ajuda. O Centro de Valorização da Vida (CVV) está disponível 24h por dia no número 188. Já o chat funciona nos seguintes horários:

Segunda a quinta: 9h às 01h
Sexta: 15h às 23h
Sábado: 16h às 01h

Além disso, entre em contato com a prefeitura de sua cidade para saber como funciona o atendimento em saúde mental de seu município. Para pessoas de baixa renda que precisam de atendimento de emergência, o Governo Federal disponibiliza, em todas as regiões do país, filiais do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). As equipes multiprofissionais empregam diferentes intervenções e estratégias de acolhimento, como psicoterapia, seguimento clínico em psiquiatria, terapia ocupacional, reabilitação neuropsicológica, oficinas terapêuticas, medicação assistida, atendimentos familiares e domiciliares, entre outros.

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